sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

É Natal No Blog "Ou será que não?"!


E para comemorar, O Homem Do Canadá apresenta um texto de autoria do cartunista Nani e publicado no extinto jornal O Pasquim 21 (nº 43, 10/12/2002) na sua coluna Loja de Inconveniências. É o espírito do natal tomando conta do Ou será que não?

CONTO DE NATAL

Ratazana era um menino de 10 anos e morava numa favela do Rio. Véspera de Natal, ele sabia que não ganharia nenhum presente. Merdinha, seu irmão de 8 anos, acreditava em Papai Noel e pediu a Ratazana para escrever uma carta ao bom velhinho. Ratazana poderia ter dito a verdade, mas só de curtição escreveu, num pedaço de papel, o que seria o desejo deles: ganhar uma bola no Natal. Merdinha colocou a carta no tênis furado e botou na janela do barraco e os dois irmãos foram dormir. Ratazana sem sonhar, Merdinha dormiu sorrindo, pensando que acordaria e veria a bola (...).
O velho compositor Nunuca passava pelas vielas da favela, escorou num barraco para urinar, viu o tênis na janela e, dentro, um papel. Curioso, leu a carta que era endereçada a Papai Noel. O menino que morava no barraco acordaria frustrado pois nada ganharia. Sensível, o compositor da velha-guarda pensou que poderia realizar o sonho do garoto. Relembrou suas próprias frustrações do tempo em que, criança, era sempre esquecido no Natal (...).
Mas como ajudar? Nunuca era um ferrado na vida. Não tinha dinheiro para comprar uma bola. Já tinha desistido de ajudar o pivete quando tropeçou num sapo que pulava pelas valas negras. Teve uma idéia. Colocou o sapo dentro do tênis. O menino não ganharia uma bola, mas teria um bicho que poderia ser seu amigo, brincar com ele e amenizar a desilusão de não ganhar presente sonhado. Nunuca achou que agira certo, foi dormir feliz, orgulhoso pela ação que praticara.
E o dia de Natal amanheceu na favela. Merdinha e Ratazana voaram para a janela esperando encontrar, dentro do sapato, um presente. Que raios de presente era aquele? Pediram uma bola e ganharam um sapo.
No campo de pelada da favela, Ratazana e Merdinha juntaram-se a outros meninos e fizeram dois times de futebol. O time de Merdinha e Ratazana ganhou de dois a zero. A partida terminou aos quinze minutos do primeiro tempo, quando já não restava quase nada da bola, quer dizer, do sapo.

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